26 de dezembro de 2012

percepção, sonhos e algum esboço de objetivos

abro mão de querer
um mundo onde eu me encaixe.
vou tratar de me caber
e ser aquele me baste.
quero mais é me exercer
e quem não gostar
que se acostume ou,
simplesmente, se afaste.

chega da indecisão que me dói.
vou fazer da frustração
uma nova tentativa
e encarar meus erros
de maneira construtiva.
fazer da possibilidade
de repetição do desacerto
uma experiência positiva.

quero ser melhor,
na relação com o tempo.
ter uma atitude favorável,
na direção do vento.
desbloquear a estrada
que impede a chegada
dos novos sentimentos.

8 de dezembro de 2012

Poema patológico (ou o diagnóstico de um poeta em fase terminal)

A invisibilidade imposta pelo mundo
e tudo mais que eu tratei de esconder!
Volta e meia, numa fração de segundo,
teimam em reaparecer.

E tudo fica claro, nada mais é ameno!
Eu errei a dose da solução, virou veneno.
As fraturas expostas que tentei esquecer...
Estão de volta, dispostas a sangrar e doer!

Cicatrizei feridas sem mesmo deixar sangrar.
Achava que hemorragia interna fosse mais fácil curar,
porque, mesmo deixando hematomas,
os efeitos do remédio que tratam os sintomas
não demoram a chegar!

Talvez seja melhor o sangramento,
tem horas que a patologia é sentimento.
Sentimento preso cresce e pode se espalhar.
Metástase, doença crônica que pode me matar!

6 de dezembro de 2012

Às vezes, não é preciso entender o que a letra diz
Às vezes, basta a melodia da vida e fazer-se feliz.
Tudo que é dito, às vezes, é apenas som,
basta entrar no ritmo e encontrar o tom.

Quero seguir a vida por sua trilha sonora.
Barulho de gente que ri, briga, vive,
faz planos, se arrepende, se esquece
e aprende, tudo ao mesmo tempo agora.

Era verde a cor do teu encanto,
e esse nem era o maior deles, no entanto.
A música trouxe com ela outros tantos.

É assim que espero passar pelo mundo,
de olhos abertos, para ver as cores do vento.
Com o coração pulsante, para fazer curvas e dançar,
quando a canção ressoar pelas cordas do tempo.

5 de novembro de 2012

os males da automedicação

sofro de emergências afetivas.
padece meu corpo, por questões
não resolvidas.
tenho a alma debilitada
e a visão comprometida.
mesmo assim, quero.
abandonar os óculos e errar:
a direção e a medida.

22 de outubro de 2012

Lente de contato

É bonito quando alguém te olha
com olhos de quem realmente te vê.
Pelo prisma compartilhado,
você descobriu as minhas cores
e sorriu.

19 de outubro de 2012

Parachutes (ou 100 metros rasos)

Quero um acontecimento novo porque já cansei de remoer os mesmos erros. Preciso correr o risco de ainda fazer tudo igual, saber que o medo – aquele instintivo e que ajuda a sobreviver – ainda é meu. Eu sou assim, gasto muito tempo me certificando que o meu caminho não passa pelo encontro de duas ou mais placas tectônicas. Mas, nunca passei tanto tempo sem dar, pelo menos, um passo, como agora. 

Nunca precisei vencer uma maratona em chão de areia movediça para provar que sei correr riscos. A vida quis que uma das minhas maiores habilidades fosse adaptação. E me abasteceu com a coragem cautelosa de seguir em frente. De certo, alguma compensação porque tive menos tempo que a maioria das pessoas para deixar o mundo da gravidade zero e desembarcar aqui. 

Tive que encontrar pontos de equilíbrio para seguir de pé. Mas, cair nunca foi problema. O apego pela terra firme também não pode ser por acaso. O universo é justo e me preparou para os tropeços. Momentos em que me aproximo bruscamente do chão e sei exatamente como me colocar. A necessidade de movimento deve ser mesmo pegadinha, acontece. Só que as quedas da minha própria altura eu já conheço e não fazem mais efeito. 

Um combate eficaz a estagnação de agora seria a injeção de adrenalina de uma queda realmente livre. Três mil pés de altura, sem escrúpulos, sem pudores e sem nenhuma rede de proteção.

17 de outubro de 2012

Coisas para discutir com o analista?

A vontade e o medo da confissão.
A obrigação subentendida,
a intenção comedida
e a vida.
A suspensão da dor,
em nome de cicatrizar a ferida.
E no fim, tudo é convenção:
verdades disfarçadas pela ocasião,
para caber no mundo.

26 de setembro de 2012

'Se o cara que vem lá, será eu?'

Atravesso a rua, em sinal de que fiz diferente. Não sou mais o mesmo lá do outro lado, já que as árvores não me protegem mais do sol e, agora, enfrento o obstáculo de enxergar contra a luz. Logo eu, que sempre enfrento o medo me acostumando com o escuro e lugares inóspitos, os mesmos que uso para esconder minhas fraquezas. Acrescento dificuldade às coisas para mostrar força, dissimulando o esforço em coragem, para ser maior.

Às vezes, quando o cansaço vem todo de uma vez, me empresto a pose e os trejeitos de uma alma injustiçada. Nessa hora, peço doçura à vida, mas, pela farsa mal ajambrada, recebo de volta aspereza. Então, eu entrego o que tenho de mais doce à vida e ela me devolve certeza.

Essa conta é toda minha, o débito de ter vindo ao mundo deve ser quitado apenas por mim e por mais ninguém. Ninguém tem culpa por eu ser sempre tão constante, mas cheio de dúvidas.

Mudo de lado na rua, tropeço nos buracos da calçada, mas sigo exatamente o mesmo caminho. Não porque é mais seguro ou porque já o conheço, mas porque contempla as vontades de quem me ensinou a andar. E as minhas próprias vontades, sei lá.

18 de setembro de 2012

de Barros são as letras que me orientam

Prefiro o verso que surge espontaneamente .
Aquele que consegue explicar tão completamente
até as coisas que estão do lado avesso,
minhas histórias que ficaram sem começo. 

Junto letra pela necessidade de entender,
quando preciso me encontrar...
E agradeço a todos os poetas
que tiveram a generosidade de me explicar.

Mas Manoel, que desconstrói as coisas e faz seu verso
pelo 'acriaçamento gramatical' das palavras, me versou o contrário:

Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes

 É que ele guarda habilidades que eu não domino,
a sabedoria sintética de menino.
Só aprende "...aquele que gastou a sua história
na beira de um rio"

3 de setembro de 2012

poema de boa noite (ou jeito de lidar com a saudade)

dorme,
até passar a sensação
de sonho ruim que, às vezes,
se sente no meio de um dia qualquer.

a vida está posta
e acaba de provar que um dia o ocaso chega.

vá para os braços de Morfeu,
embalado pelo conforto de ter perdido.
Isso te permite dizer que o amor, um dia, foi teu.

nada que ainda virá pode suplantar o que foi vivido,
compartilhado e sentido.

21 de agosto de 2012

Até que se prove o contrário

Que seja proferida a sentença e que valha cumprir a pena. Porque o caminho da absolvição o condenou a uma vida sem pecados. Tão somente, tornou-se capaz de alguns delitos. Cometidos contra si mesmo. Culposos, mas, com intenção de matar qualquer quebra de expectativa criada sobre o futuro? Não, toda insegurança adquirida serve de testemunha e foi convocada para depor. Dolosos, duplamente qualificados: pela covardia e pela omissão. 

Em sua ficha corrida consta ainda a acusação de obstrução da lei de viver em conta própria. Também foi preso em flagrante por estelionato. Especializou-se em falsificação de angústias e dores, substituídas por alegrias de fabricação duvidosa. 

Foi levado ao tribunal na condição de réu e vítima, para um julgamento onde a culpa assume ares de juiz. O advogado do diabo, único que aceitou trabalhar no caso, sustenta a tese de que seu cliente cometeu apenas o deslize de manter suas fraquezas em cárcere privado. 

– Neste caso, não há crime e, muito menos, algo que mereça a classificação de hediondo. O que existem são atitudes que podem ser consideradas odiosas e de natureza racional. Ninguém é obrigado a produzir provas contra si. Por isso, meu cliente preferiu o silêncio. Afinal, todos têm o direito de permanecerem calados. 

Mas, tudo o que não disser pode e será usado contra ele. O acusado ensaia agora o drama de se declarar inocente, mesmo diante de tantas evidências. Se for condenado, a opinião pública espera que o veredito traduza a claque, que se ouviu a todo o momento, vinda do júri: “Além de fugitivo, ficou alheio à própria condição de semiliberdade”. 

17 de agosto de 2012

Maré

Nem foi por acaso
que, naquele dia,
desejou que a luz do sol
fosse embora mais cedo.
Talvez o medo.

Mas, tem dias
que a lua não quer chegar.
A lágrima não vem inteira,
seca dentro dos olhos e se esvai.
Deixando só vontade, sem chorar.

O sentimento é sincero, mas
a alma não está  leve,
a mente não se fez livre,
o corpo não foi entregue
e o coração não virou mar.




3 de agosto de 2012

Moonlight particular

Acorda...
Vai pra vida, o mundo
não é seu e nem deve ser.
Abraça suas responsabilidades
do mesmo jeito que abraçaria um amigo querido
e tira aconchego dos seus deveres.
Aproveita o dia e vai.

Quando chegar a noite, pára
e olha um instante pro céu.
Vez em quando, tem  lua completa
e vestida  de renda.
Ela também não é sua, mas,
quando você repara, ela está lá
só pra você.

31 de julho de 2012

Nasceu um desalento em mim
que é quase um desacato.
Eu preciso é do desatino do sim
porque confesso tudo pra dentro e, no fim,
o meu apego pelo não, é desabafo.

A fruição do mundo se faz em des-contato
e eu, que nasci desatento assim,
percebo o não-dito, o não-feito, o não-fato.
Mas me esqueci do tempo, fui no vento
e, nesse descompasso, perdi o sapato.

Porque eu sou feito de terra de firme, guiado pelo razão
quero ver quem diria
se não sou firme
de pés descalços, liberto a minha alma
na poesia
voo sem sair do chão.




26 de julho de 2012

'Mudaram as estações...'
E, aonde elas foram, fica longe de mim.
Eu fiquei, pra ver o tempo passar.
"....tão árido.. que não faz diferença alguma entre chuva, vento, ou calor abrasador"

17 de julho de 2012

2 versos e um inteiro

Vive pro lado de dentro,
não aquilo que é segredo,
 mas as coisas que ainda são metade.


.

14 de julho de 2012

E todas aquelas vezes que a meteorologia alertou sobre a velocidade do vento, não serviram para nada. De repente, a medida que passa a valer é algo que fica entre a leveza e o peso da falta de ar. Tudo em volta some, a gente sufoca e passa a desejar, ardentemente, qualquer sopro.

Algo além do desespero, achar que é bem melhor estar olhando para o furacão do que o vácuo. É assim que se sente, preso dentro de coisa alguma e em nenhum lugar. A indiferença com que ele tem tratado a vida anestesiou a passagem dos dias, mas não serve de remédio para a dor.

E o pior de tudo é sentir saudade de si mesmo. Ele se abandou já faz tanto tempo. "Pra que buscar recaída, reviver o drama, mexer na ferida? Por onde se engana o coração, se encontra a saída pra vida".  Deixa pra lá, esse tempo morto. Passado com a mesma pressa com que se usa as gotas pra contar. Achando que se guardava do mundo, perdeu-se nesse jeito lento de se desperdiçar.

17 de junho de 2012

Origami

Conceda-me  a palavra, mas saiba
que hoje eu estou sem voz.
Só posso lutar contra a gravidade
que pesa sobre as minhas mãos.
Juntar as sílabas de todo o meu
silêncio e dobrá-las em flor.



Sem consertos possíveis desta vez,
deixa sua alma saber o que é o mundo.

25 de maio de 2012

- 'Fecha a cortina dos teus olhos'.
- O meu cheiro vai alcançar teus pensamentos.
- E te fazer sonhar comigo.

Vá 'noitear', disse minha neguinha.
Desse jeito ela sabe que me tem.
É assim que eu sei que ela é só minha.
Eu aqui de longe, ela sozinha.
Também sou dela e de mais ninguém.

13 de maio de 2012

Deixa transbordar quando couber mais nada.
Espere que a água lave as feridas.
Querendo deixar não sofrer,
foi se livrar de viver.
Chegará  a hora da esperança cicatrizada,
não terá vida para ser lembrada,
mas estará implorando para esquecer





3 de maio de 2012

Tinha o menino um coração gelado
porque, com a lenha que juntou,
fez a fogueira que aqueceria suas mãos e pés.
Assim, conseguiria ir onde tivesse que ir
e faria o que fosse preciso fazer.
Mas, ficou parado.
Coração que não pulsa não mostra o caminho.
Quando foi que ele se esqueceu
que era feito e movido pelas batidas do tambor?

23 de abril de 2012

Paradoxal e didático

Vivo
 individualmente de ser coletivo.

Objetivo
de encontrar o acerto definitivo:
errar cada vez melhor,
sempre que for preciso.

Para que tudo parecesse menos óbvio, Pedrinho resolveu ir para a escola sem o boné do Ben 10 que a mãe tinha comprado, no caminho de volta da barbearia. Afinal, era preciso manter a dignidade e o orgulho, mesmo tendo perdido a guerra contra os piolhos e ficado sem os cabelos.

A aula de Educação Física era no primeiro período, estava tudo acertado:
"Amanhã é dia de futebol, se eu chegar quase atrasado, posso ir direto pra quadra. O Mateus  já vai ter me escolhido pro time dele. É só fazer dois ou três gols e pronto! Quando me perguntarem o que aconteceu, eu respondo que tô treinando pra ficar tão bom quanto o Neymar, mas ficando careca, eu ainda fico um pouco mais original. Todo mundo tem aquele moicano amarelado agora".
O único problema  é que o Mateus é azarado e perdeu pro Felipe no par ou ímpar e a história fica bem menos convincente quando se joga no time dos perebas e se perde o jogo de 3x1. 

19 de abril de 2012

Abecê

Se já fosse capaz de prosa, ele se arriscaria pela poesia. Se fosse poeta, em silêncio ele ficaria.

5 de abril de 2012

Aos fazedores de encantamento

Viva ao artista por sua coragem!

Por se doar em  sacrífico.

Num misto de obrigação e vício,
entrega-se ao público
em nome de seu ofício.

1 de abril de 2012

– Se aquieta e deixa o sono chegar Pedrinho.
– Amanhã é dia novo, o choro vai ter secado.
– Você vai ver.
– Aí, a minha, minha pipa vai voltar?
– É ainda melhor que isso, meu menino.
– O vento vai continuar soprando...
– Boa noite vô!
– Um anjo vai trazer teu sono, meu filho.

26 de fevereiro de 2012

Carpe diem

toda vez que a estrela de fogo renascer no céu,
que todos saibam que é um recomeço.
mas, que  não seja apenas na hora certa.
que seja em tempo, sem importar sua fração.
renovação definitiva, busquemos todos nós.
como quando a criança 'dá um salto pra dentro salto da vida'
e faz toda gente saber que "o mundo tornou a começar".
"Vamos planejar um belo futuro pra logo mais"
Até o dia em que for possível,
ver a chegada de um novo dia
e recomeçar.