Atravesso a rua, em sinal de que fiz diferente. Não sou mais o mesmo lá do outro lado, já que as árvores não me protegem mais do sol e, agora, enfrento o obstáculo de enxergar contra a luz. Logo eu, que sempre enfrento o medo me acostumando com o escuro e lugares inóspitos, os mesmos que uso para esconder minhas fraquezas. Acrescento dificuldade às coisas para mostrar força, dissimulando o esforço em coragem, para ser maior.
Às vezes, quando o cansaço vem todo de uma vez, me empresto a pose e os trejeitos de uma alma injustiçada. Nessa hora, peço doçura à vida, mas, pela farsa mal ajambrada, recebo de volta aspereza. Então, eu entrego o que tenho de mais doce à vida e ela me devolve certeza.
Essa conta é toda minha, o débito de ter vindo ao mundo deve ser quitado apenas por mim e por mais ninguém. Ninguém tem culpa por eu ser sempre tão constante, mas cheio de dúvidas.
Mudo de lado na rua, tropeço nos buracos da calçada, mas sigo exatamente o mesmo caminho. Não porque é mais seguro ou porque já o conheço, mas porque contempla as vontades de quem me ensinou a andar. E as minhas próprias vontades, sei lá.
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