14 de janeiro de 2011

Covarde

Eu queria ter visto
Eu devia feito
Mas eu sempre desisto
Falta de coragem, culpa
Puro.  Simples. Defeito.

De todo, não passo de um pobre
De viver só e estragar o mundo
Não há em mim algo nobre, objetivo
Antes que a terra me leve
Enquanto há um céu que me encobre
Mesmo por sorte me entregue
Serei de mim fugitivo

Quero dizer que é injusto
Que não devia ser assim
Tem gente que se arisca,
Refaz-se do susto.
Não sobra nada e eu?
Quero tudo, sim!
Sem pôr a cara na porta, no fim.

Tenho esse direito, me proteger.
Quem cuida da minha ferida
Se ela abrir-se de novo?
Ninguém viria aqui, nem chegaria perto
Queria ver.
Eu fiquei, enfrentei a língua maldita do povo

Porque é fácil fazer esse papel
Fingir que sou eu, bancar o juiz
Não me cabe, sou o réu.
Trancado em mim, infeliz.

Sou culpado sim,
O espelho me olha, tripudia e depois diz:
– Tem o nome dela aqui. Beatriz.
– Você não presta!
– Era em mim que ela escrevia: eu te amo
– Era mais que tudo no mundo.
– Quem vai te tirar do fundo?
– Sem ela, por quê? Traiu. Olha em volta, vê.
–Tudo registrado, ainda dá pra ler.

Um comentário:

Súzan disse...

"Serei de mim fugitivo" Me faltam palavras... Sem mais!