4 de novembro de 2013

jardim

sangra teu corte
e lava com o sal
que te escorre dos olhos.
enterrar-se em dores
é dar sinal pra morte.
em vez disso, faz da tua lágrima
a água que alimenta tuas flores
e acena em cores
pra chamar a sorte.


30 de outubro de 2013

Adquiriu o hábito da renúncia,
desde muito cedo.
E se perdeu, aos poucos
e irremediavelmente,
na fronteira entre a generosidade
e a covardia.
Os dias ele via
sem inspiração
"E a vida que ardia 
sem explicação".
Agosto passou,
agora o vento é outro.
E eu, que venho sem fôlego,
vi a vida mudar de propósito.
Ela fingiu! Tudo igual, o lugar é o mesmo de antes,
sem direito a suspiro para encher os pulmões
com ar de recomeço.

19 de outubro de 2013

Poema do sacrilégio

O poema feito de terço.
Tenho fé na força da rima 
para fazer nascer um verso.
A prática sublime, verdadeira ação divina
é capitar a beleza em cada dia.
Em vez do Rosário, rezo Poesia,
Enxergo cor aonde a luz não ia,
crio novo universo a partir do nada
e coloco tudo aonde nem cabia.

9 de outubro de 2013

Deixa queimar,
que brasa é coisa viva.
Modifica a gente,
transforma só de encostar.

Faz de lenha teu rancor.
Joga em direção às chamas,
 e deixar queimar.
Quando for ver, a mágoa
já tem nome de cor.

Depois é só reparar,
tua aflição virou cinza
e quando o dia ventar,
passou!

3 de outubro de 2013

Um sopro de maré que tem som de Lira

Entra,
te preparei uma almofada
que é azul,
da cor do céu.

As nuvens
mandei fazer de algodão
que, além de macio,
também é doce.

Agora,
vou preencher o vazio
que ainda resta aqui
com toda beleza
que você me trouxe.

Abri a janela,
deixei a brisa entrar
era o vento de bossa,
coisa boa e nova
que vinha do mar.

30 de setembro de 2013

em verso da lágrima presa, o poema é do desencontro

faz tempo
que a alegria
não acorda comigo.
o mesmo tempo
que passei tentando
expulsar as mágoas
pelos olhos.
mas, não consigo.

7 de julho de 2013

versos de amora

vou deixar crescer em mim um pé de fruta
e vai ser um pé de fruta doce.
pr’eu lembrar todos os dias em que não fui feliz
pr’eu não esquecer de como queria que cada dia fosse.

e a cada fruta colhida,
a cada primeira mordida
vai ser pra reparar onde a vida me trouxe

e foi bom.

29 de junho de 2013

Poema da precipitação

Nunca peço pra ter vontade de chorar.
Mas, também não meço o tempo
ou faço gesto pra vontade passar.
E se é assim de repente,
arrasto até correntes
para dar sinal
de que meu pranto é legítimo.
Cada gota de água e sal
que cai agora
é pra jogar fora
um motivo antigo.
Minha lágrima é letra
que encharca o papel
e me lava feito chuva
que escorre das nuvens.
Sou eu sob o céu.

18 de junho de 2013

cria
coragem,
enfrenta
a vertigem
e segue
a viagem
com a mesma
força da origem.

abre
a passagem
pro mundo
com a força
e vontade*
que o tempo
e a vida
exigem.


*03/10/2013 - porque é impossível estar vivo sem vontade.

9 de junho de 2013

Tem coisa que é muito,
mas não sobra.
É coisa que, de tanto ter,
escapa.
Saudade é coisa assim.
Tenho tanto dela agora
que eu quero escapar de mim.

7 de junho de 2013

p.alavra

É que não dava pra ser diferente.
No fim, escolhi o que fazer
sem saber
se gosto mais de letra
ou de gente.

Meu gosto é pelo encontro,
‘a distância mais curta
entre um e outro ponto’.

Pessoas que se encontram,
em qualquer parte sob o céu.
Letras que se encostam,
alinhadas pra contar uma história
na superfície do papel.

É onde a prosa começa,
é onde tem vírgula
quando a respiração tropeça.

E, de repente, nasce até verso.

2 de junho de 2013

Heterocromia adquirida

O chá, o que sobrou dos sonhos e aquela vontade antiga de ser inteiro. Alguns hábitos que o impedem de esquecer quem é, de onde veio e as pessoas que ama. Leva sempre na mala, com as outras coisas importantes. Só que, agora, tem mais saudade do que força pra seguir caminhando. Mas, ele nunca quis ser grande demais para chegar mais longe. Sua busca é por amplitude, quer ampliar a alma e marcar a retina com o maior número de cores que for possível. Sorte que ele não é de desistir assim tão fácil e tem aquela necessidade de colecionar pedaços do mundo.

28 de maio de 2013

Glacial

Sinto frio desde que cheguei aqui
e a culpa não é do tempo.
Gosto de vê-lo correr,
nesse passo veloz e desse jeito
de parecer sereno.
Vejo tudo pela janela
e coloco minhas feridas pra secar
no vento.

É só que o inverno nasceu comigo.
Mas, não tenho o direito
de dizer que cheguei no ano em que as estações
deram defeito
ou fui parido numa hora sem jeito.
Disso, eu não sei e está feito.

Apenas é certo que essa pressa na chegada
me deixou fora do calendário,
Meu relógio interno marca a hora errada
e o movimento de translação, em mim,
está ao contrário.

E, para não estar congelado e não ser parado
pela dor dos meus dedos gelados,
fiz um cobertor denso o suficiente
com todo meu desapego,
costurado de indecisão
e os medos que carrego sozinho e calado.

18 de maio de 2013

O tempo cuida de colorir cada hora do dia.
Os laranjas e vermelhos que eu vi no céu
eram as cores do que eu sentia...
Combinavam com os tons de saudade nos olhos
e com meu novo sabor de café, doce de melancolia.

Lembraram o par de nuvens que me cobria...
Que ficaram a sombrear o chão que antes me tinha.
Só me mudei porque o amor também vinha.
Deixei metades por lá,
Trouxe o resto desse amor comigo
e ele há de durar....

11 de maio de 2013

Grão

Agora, que passo parte do tempo vendo a vida de cima, me sinto um tanto menor. Sempre ouvi, e continuam a dizer, o contrário. Mas, aqui tem tanto chão e tanta gente que pareço poeira nos sapatos daqueles que deviam  me aparecer em estado de formiga.

Todo pó teme o sopro. 
Aqui, no inverno, o vento é forte.
De vez em quando, o décimo terceiro andar não parece, como deveria ser, apenas um detalhe.

2 de maio de 2013

A hora do recreio

Deixou o esforço de ser forte pra depois, fingiu não reparar que a dor já estava ali. Ela chegou antes que sol pintasse o mundo com todas as cores do dia. A caneca meio cheia de café e os braços apoiados no batente da janela. Um momento pra ser simples e aliviar o semblante.

30 de abril de 2013

À deriva

O chão do convés cedeu
e a âncora do teu cansaço
se desprendeu.
Agora a tripulação
é de um homem só
e o capitão,
que nem era marinheiro
e nunca soube dar nó,
abandou o navio.
Quem vai assumir o leme?
Quem vai bancar o resgate?
Quem tem coragem de entrar por você num bote?
É perigoso remar em mar bravio.
Pode ser que alguém se arrisque e ainda reme.
Mas, salvar tua alma condenada,
depois de tudo, não significa nada
e nem paga a pena de um coração tão frio.

20 de abril de 2013

Quando a dúvida vem, cheia de medo,
lembro do que nunca lhes contei...
Aquele segredo,
decidi guardar porque precisei de força.
Ouvi dizer que quem sabe pode mais.
Era algo que devia mudar a minha história, eu achei.
Refiz o enredo
pra combinar com as minhas escolhas, com desfechos possíveis.
E de repente, fiquei sem ninguém pra passar o texto,
revisar meus erros.
Um roteiro, perdeu os diálogos e eu nem reparei,
que se deu pr’um monólogo.
Palavras repetidas em silêncio e à exaustão,
até que caibam na boca
e o ar nos meus pulmões me permita dizer que sim.

10 de abril de 2013

ême

Amor feito da gente
que nos cabe completamente,
encontra razão na cumplicidade
e na teimosia de sermos tão diferentes.

E deixa o tempo passar...
Deixa o giro do mundo seguir,
a vida vai nos mudar de lugar
e a saudade latente deve surgir.
A ausência fará o Amor reagir,
descobrindo um jeito novo de existir.

Porque a distância não pode apagar
as marcas deixadas na alma, na pele, na mente
e nem diminuir o que nos uniu outrora
ou o que nos mantém juntos agora.
Esse Sentimento que é para todo o sempre.

9 de abril de 2013

A desenhista



Segura a minha mão e muda o meu traço.
Senta aqui do meu lado,
Adianta meu passo,
Rumo ao futuro e a tudo que é bom.

Melhora o esboço que eu fiz...
Dividi comigo as nuances no teu pincel,
Vem gastar comigo a velha caixa de giz.

Chega de melancolia em tom pastel,
Enche minha vida de arte.
Educa meus pés, ensina-os a dançar.
Enquanto te faço um chá, meu amor.

Eu te faço um doce de querer ficar.
Canto pra você uma canção bonita,
Pro nosso lugar ser só luz e cor.

5 de abril de 2013


Toda essa de fumaça de silêncio,
esconde as dores deixadas pelo incêndio.
Queimaduras de graus incalculáveis
que resultam em cicatrizes indissolúveis.
É como eu me sinto agora, queimando.
E nunca sei o que fazer...
quando o tempo ou a vida me exigem pranto.
Sentir eu sei
e sinto tanto...
Eu só não sei chorar.

25 de março de 2013

sem fazer alarde

Partiu pra rua
porque o mundo é agora,
a vida é aqui
e tem a lua lá fora
pra dar vontade de ir.
Vi a Poesia indo embora,
pra ficar longe de mim.

Passou pela porta
reclamando por verdade.
Dizia-se cansada
do meu verso covarde.
Não disse quando volta,
mas sei que virá nua...

Buscará antes pela rima crua.
Rejeitará todo motivo raso
e sentimentos sem convicção.
Vai se rasgar em verbos
e separar-se em sílabas,
– se for caso –
pelo simples prazer,
pela transgressão.

8 de março de 2013

Admita

Sorte nenhuma pode te revelar,
A covardia vai destruir,
E o acaso nunca foi famoso por ter paciência.
O tempo vai te cobrar por todo esse desperdício.
Pra que tanto arrependimento?
Pra quê?
Tudo isso, ainda, vai se transformar em amargura.
A cura pro teu medo não mora na ausência.
Você fugiu de si mesmo
E construiu barreiras para se esconder de parte grande do mundo.
No final, em vez de segurança, o resultado pode ser apenas autopiedade*.






*Não tenho certeza quanto a grafia correta desta palavra.

11 de fevereiro de 2013

de janeiro e fevereiro, março

Quero doçura de algodão
aconchegando meu próximo sono.
Quero céu claro de verão
e brisa fresca do meu melhor outono.
Quando o cansaço dos meus braços cessar,
quero pétalas multicores forrando o chão
e cheiro de fruta fresca ao alcance das mãos.
Lavar o rosto no vento tranquilo, vindo de longe,
trazendo estação nova pro meu coração
que voltou a pulsar.

26 de janeiro de 2013

Quando o carnaval chegar,
a orquestra vai tocar
aquele velho frevo-canção.
Estarei no meio da multidão.
Vou esperar pela menina
que parecerá tão linda
no alto da ladeira da colina
com o estandarte do bloco nas mãos.
Eu espero ter perdido
até as cores da minha sombrinha
que ficará a brincar sozinha,
três esquinas antes.
Porque os confetes são
a chuva que molha todo folião.
Serei todo coração
e quero pulsar até a quarta-feira.
Ter a alma lavada
e o pé de solas marcadas
com as cinzas do chão.