26 de setembro de 2012

'Se o cara que vem lá, será eu?'

Atravesso a rua, em sinal de que fiz diferente. Não sou mais o mesmo lá do outro lado, já que as árvores não me protegem mais do sol e, agora, enfrento o obstáculo de enxergar contra a luz. Logo eu, que sempre enfrento o medo me acostumando com o escuro e lugares inóspitos, os mesmos que uso para esconder minhas fraquezas. Acrescento dificuldade às coisas para mostrar força, dissimulando o esforço em coragem, para ser maior.

Às vezes, quando o cansaço vem todo de uma vez, me empresto a pose e os trejeitos de uma alma injustiçada. Nessa hora, peço doçura à vida, mas, pela farsa mal ajambrada, recebo de volta aspereza. Então, eu entrego o que tenho de mais doce à vida e ela me devolve certeza.

Essa conta é toda minha, o débito de ter vindo ao mundo deve ser quitado apenas por mim e por mais ninguém. Ninguém tem culpa por eu ser sempre tão constante, mas cheio de dúvidas.

Mudo de lado na rua, tropeço nos buracos da calçada, mas sigo exatamente o mesmo caminho. Não porque é mais seguro ou porque já o conheço, mas porque contempla as vontades de quem me ensinou a andar. E as minhas próprias vontades, sei lá.

18 de setembro de 2012

de Barros são as letras que me orientam

Prefiro o verso que surge espontaneamente .
Aquele que consegue explicar tão completamente
até as coisas que estão do lado avesso,
minhas histórias que ficaram sem começo. 

Junto letra pela necessidade de entender,
quando preciso me encontrar...
E agradeço a todos os poetas
que tiveram a generosidade de me explicar.

Mas Manoel, que desconstrói as coisas e faz seu verso
pelo 'acriaçamento gramatical' das palavras, me versou o contrário:

Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes

 É que ele guarda habilidades que eu não domino,
a sabedoria sintética de menino.
Só aprende "...aquele que gastou a sua história
na beira de um rio"

3 de setembro de 2012

poema de boa noite (ou jeito de lidar com a saudade)

dorme,
até passar a sensação
de sonho ruim que, às vezes,
se sente no meio de um dia qualquer.

a vida está posta
e acaba de provar que um dia o ocaso chega.

vá para os braços de Morfeu,
embalado pelo conforto de ter perdido.
Isso te permite dizer que o amor, um dia, foi teu.

nada que ainda virá pode suplantar o que foi vivido,
compartilhado e sentido.