4 de fevereiro de 2011

"em cismar sozinho, à noite"

Imagina só:

Eles quiseram me deixar cego. Furaram e depois arrancaram os meus olhos. Era pra não ver o que faziam aqui. Não queriam que eu contasse a ninguém. Cortaram a minha língua e depois costuraram os meus lábios. Do contrário, eu gritaria todos os absurdos feitos antes e os absurdos de até aqui. Prevendo que – mesmo depois de tanto – pudesse reagir, esmagaram minhas mãos. 

Por não admitirem a possibilidade de uma fuga, serraram os meus pés e quebraram as minhas pernas. Dilaceraram o meu corpo e tentaram destruir minha forma humana. Em vez de monstro, tornei-me homem ainda mais. Na tentativa de me tomar tudo, deram-me o mundo. Libertaram-me. Quando tudo parecia impossível. Quando não havia mais nada, nem além. 

 Encontrei meus pensamentos.
Imagina! Só.

2 comentários:

Cosmunicando disse...

uau!
imagina... só!
quando não há mais o que perder, só existe possibilidade de ganho... mas há também o imperdível, o inalienável, o cerne do ser.
belo texto!

Flávio Brito disse...

Minha querida, eu pensei agora aqui comigo: é aquilo que é nosso, não por direito. Mas é nosso por defeito, de fabricação.