27 de fevereiro de 2011

(ou sofrer é o que sobra)*

Agora eu ando inteiro de lado,
Porque essa dor não me fez mais elegante.
Eu não fui a lugar nenhum, fiquei distante.
Ainda espero o prêmio de consolação.

Há de valer alguma coisa a minha permanência...

Quem é esse que aparece no espelho?
Anda, diz logo, antes que eu grite!
Eu quebrei o espelho, e todos os que aparecem agora?
Quem são?



*Paulo Leminski, obrigado pelo empréstimo de inspiração. Desculpa por não poder pagar o quanto é devido.

19 de fevereiro de 2011

Um poema de ouvir, uma história pra cantar*

É sobre a amizade de duas almas. Cada uma delas tem a mesma idade, porque aqui é a amizade que mede o tempo. Era de manhã quando começou:


Tinham vindo de lugares diferentes. 
Uma ficou ali, encostada na parede, observando. 
O outro, que não tinha chegado sozinho, falando. 
Mas não foi ele quem deu o primeiro oi. 
E quem apresentou os dois, ficou pouco na história, já foi. 

Passavam todas as manhãs juntos, 
Mas a amizade se fez depois do meio-dia. 
Tão logo e bem rápido... 
Sem que percebessem, cada ‘tarde vazia’, 
Entre pincéis e tinta sobre o papel, 
Virava fim do dia e ela ia.

Ira! - Tarde vazia
"Você me ligou naquela tarde vazia
E me valeu o dia..."

Mas voltava. 
Ainda tinham que recriar Portinari. 
Ela dizia o caminho, descobria a cor de terra vermelha. 
Ela achava o traço, ele escondia. 
Nem circulo de compasso ele sabia. 
Mas a trilha sonora ele escolhia ou, naturalmente, acontecia. 
Não mais que de repente, a música certa aparecia. 

O quadro que ela pintou, foi ‘Futebol’. 
E foi por causa da copa o mundo que ele descobriu seu dom. 
Modesto, porém honesto. Talvez singelo: 
Só sabia pintar com o amarelo. 

O tempo passou... 
Depois de tanta cor, de tantas músicas, 
Tantas tardes cheias, os dois estiveram longe. 
Passaram por longo tempo de distância vazia. 
Ela conheceu alguém, ele se entregou de vez à poesia. 

Ksis - Beijos, blues e poesia
"Eu te procuro até não poder mais na Internet, bares, nos jornais.
Trombar você é o que eu quero mais, menina, menina"

Ela deixou, por enquanto, os pinceis e vai ser historiadora. 
Ele, que devia ser médico, vai ser jornalista. 
Ela, jamais perderá o dom, continua artista. 
Quanto a ele, foi melhor enfim. 
Pelo menos pra medicina, foi sim! 

O tempo passou, passou inclusive aqui,
Depois de tantas letras. 
Mesmo que seja tempo de ir, enfrente! 
Porque será nosso e da nossa amizade o tempo todo de sempre. 

Agora estamos em ‘calma, tudo está calma’! 
O amor-amizade, da minha e da sua alma. 
Terá ‘a mesma idade que a idade do céu’. 
E a mesma verdade de ser pura, simples e fiel. 

Paulinho Moska - A idade do céu
"Não somos o que queríamos ser
Somos um breve pulsar em um silêncio antigo
Com a idade do céu..."


de 11 de fevereiro de 2011 para 
todo o resto da vida, 
com todo amor que há no mundo. 


*É daqueles que nasceu pra dizer o quanto eu amo alguém. Este aqui é da Débora Mosqueira, pra lembrar da nossa história e pra ficar registrado nosso amor-amizade.

10 de fevereiro de 2011

Eu amo um amor de vento,
eu amo e começa lento.

E aí vem o suspiro...
(e eu não prendo a respiração)
Eu espero até ganhar outro.

O meu amor é de vento
porque cada amor tem seu tempo.

9 de fevereiro de 2011

Eu quero

Por vontade imprópria, ceder. 

Ver sem menos, destruída 
Aquela convicção falida: 
Mais vale não ser na vida
Que correr os riscos do viver.

8 de fevereiro de 2011

De conversar, de convencer

– Sai agora daí, menino!
– Agora não!
– Luíz Fernando eu tô te avisando. Vou começar a contar: um, dois, três...
– Aah... Mãe, eu já contei setecentas e quarenta e sete formigas! Se a senhora começar agora, vai me fazer perder a conta.

4 de fevereiro de 2011

"em cismar sozinho, à noite"

Imagina só:

Eles quiseram me deixar cego. Furaram e depois arrancaram os meus olhos. Era pra não ver o que faziam aqui. Não queriam que eu contasse a ninguém. Cortaram a minha língua e depois costuraram os meus lábios. Do contrário, eu gritaria todos os absurdos feitos antes e os absurdos de até aqui. Prevendo que – mesmo depois de tanto – pudesse reagir, esmagaram minhas mãos. 

Por não admitirem a possibilidade de uma fuga, serraram os meus pés e quebraram as minhas pernas. Dilaceraram o meu corpo e tentaram destruir minha forma humana. Em vez de monstro, tornei-me homem ainda mais. Na tentativa de me tomar tudo, deram-me o mundo. Libertaram-me. Quando tudo parecia impossível. Quando não havia mais nada, nem além. 

 Encontrei meus pensamentos.
Imagina! Só.