29 de julho de 2010

Amanheceu

Horácio definitivamente não é o mesmo de antes. Tornou-se alguém mais forte, com certeza. Os olhos dele são menos míope, já conseguem enxergar uma porção maior do mundo. Na tentativa de aprender da vida, acabou sabendo mais dele mesmo.  Descobriu todas as suas capacidades e os seus contrários.
Achava que para falar sobre a tristeza, era preciso estar feliz porque assim ele estaria no controle. Não deixaria a tristeza ter voz e vez para dizer o que quisesse sobre si mesma. O mesmo para falar de felicidade. Mas descobriu que para dizer qualquer coisa sobre sentimentos, é preciso sentir. Sentir tanto e mais. Caso contrário, não dá pra falar. Só fingir.
O talento patológico de nunca conseguir dizer o que as pessoas querem ouvir, ele ainda carrega. Sempre diz o que acha certo dizer, mas, na maioria das vezes, diz daquele jeito sem jeito quase que se desmentindo. Principalmente se for pra alguém que ele gosta d’um tanto muito grande.
Veio ao mundo para ser o segundo filho, com a posse vitalícia do cargo de ser o terceiro neto, Horácio. Nome daqueles que carrega o peso de uns cem anos de idade. Nome próprio, mais do que apropriado, porque já guardava – desde o primeiro momento de vida – uma velhice muito maior que a dos cabelos brancos do avô. O sol nasceu pra ele. Apaixonou-se irremediavelmente pela lua.

Um comentário:

Súzan disse...

O Horácio bem entende o que é ter vindo pro mundo na época errada... A gente apanha, fica ferido e continua acreditando... Ser um jovem velho não é fácil... A lua que o diga!